Um dos principais desafios do controle da qualidade das águas está na produção agro-pecuária difusa.
As bacias e os sistemas hídricos funcionam por capilaridade e aquilo que é feito ou mudado na ponta de um córrego irá se refletir em todo seu curso, levando o poluente para os ribeirão e para os rios.
A ocupação difusa das áreas torna difícil o seu controle e mesmo a educação, apesar de ter os mesmos efeitos de uma fonte poluidora concentrada.
A noção dos impactos em rede ainda é pouco compreendida.
Os sistemas naturais funcionam em rede. O sistema humano, ainda está aprendendo a operar em rede.
Cada unidade humana funciona como se as suas ações só tivessem impacto local, movidos pelos seus objetivos específicos.
Uma grande parte se estabelece numa pequena área de terra tentando a sua sobrevivência. Uma segunda parte já tem objetivos econômicos, ainda que limitados. Uma terceira, menor em quantidade, mas maior em áreas busca grandes lucros, tendo no agronegócio, uma grande oportunidade de negócio.
O objetivo de sobrevivência o leva a tecnologias rudimentares, dentro dos recursos disponíveis que são a energia humana ou animal e os insumos naturais. A sua ação, baseada em informações transmitidas oralmente e baixo grau de conhecimento das consequências, pode causar impactos predatórios, principalmente a erosão de terras, seja nas margens dos cursos d'água, seja em vossorocas.
A ação difusa de maior impacto está nas pequenas e médias propriedades onde são introduzidas tecnologias baseadas em energia motora e uso de elementos químicos, seja para fertilização, como para defesa da produção. O uso indiscriminado e excessivo desses fertilizantes ou defensivos leva à contaminação das águas. A motosserra contribui para um desmatamento mais rápido.
Nessas propriedade já há a introdução da irrigação, o que traz um novo ciclo de mudança nas condições das águas.
Já as propriedades maiores que tem uma ação e um impacto mais concentrado, podem ser mais controladas, mas o grande problema está ai. Diversamente do que se imagina, o maior problema não é a falta de fiscalização, mas exatamente essa, sujeita a processos corruptivos.
A diversidade de objetivos e de tecnologias leva a estratégias diferenciadas para a minimização dos impactos sobre as águas.
Em relação aos produtores em condição de subsistência, com uso de tecnologias rudimentares, a estratégia básica está na educação ambiental, inserida na educação básica. A partir de uma situação real existente, torna-se difícil alcançar os adultos - que não tiveram a oportunidade ou condição de frequentar as escolas - para uma mudança cultural. Essa tem que ser promovida, a partir dos programas de renda mínima, associada à universalização da educação básica, pela formação das crianças.
Não basta, no caso, a informação, porque elas vão entar em conflito com os dogmas, valores e crenças dos adultos. A educação ambiental terá que trabalhar com as mesmas lógicas da tradição oral. Deverá ter uma componente "religiosa". Não pode ser baseada numa lógica urbana.
Já em relação a pequenos e médios proprietários, as suas práticas não decorrem apenas na tradição oral, mas da assistência técnica promovida pelo próprio Estado e pela ação dos vendedores de insumos agrícolas, que induzem a determinadas práticas, que podem resultar na melhoria da produção e da produividade, sem se importar com os efeitos indiretos.
Essses já são vítimas ou alvos do marketing. A alternativa está num contra-marketing.
O foco principal da educação ambiental não está produtor, mas naqueles que os assistem ou os controlam.
Sem prejuizo da educação ambiental, dentro da educação básica, haverá necessidade da educação de adultos, o que envolve metodologias diferenciadas, dentro do que se denomina de andrologia.
Os produtores maiores não correspondem a uma ação difusa, mas a sua lógica precisa ser melhor entendida, o que tem diferenças regionais e em função dos produtos. Há uma tendência de especialização do conhecimento, com domínio cada vez maior das tecnologias produtivas, não acompanhadas do conhecimento dos impactos indiretos.
De outra parte, cresce a participação de empresários urbanos, que vêm na área rural, oportunidades de negócios, mas mesclam tecnologias tradicionais propostas pela população local, com as modernas, fortemente induzidas pelos vendedores.