Sustentabilidade é um termo que está virando moda, mas sem uma compreensão clara do que significa. Muitos a confundem com sustentação, com a qual tem similitudades, mas significados distintos.
Sustentabilidade tem a ver com atendimento às gerações atuais, sem comprometer o atendimento às gerações futuras. Sustentação está ligada à permanência, à continuidade.
O atendimento às gerações futuras pode ocorrer por saltos e não por continuidade. A continuidade de determinadas práticas, como a pesca predatória ou o consumo desperdiçante, pode comprometer o atendimento às gerações futuras. O crescimento econômico continuado, segundo os padrões norte-americanos, é visto como uma ameaça à sustentabilidade.
Qual é, então, o significado de uma composição que adjetiva qualquer substantivos, como "Brasil Sustentável", "Arquitetura Sustentável", "Produção Sustentável", etc., etc?
Por exemplo, "arquitetura sustentável" seria a concepção de projetos que atenda às necessidades e desejos dos clientes / usuários atuais, sem comprometer necessidades e desejos das gerações futuras. Em quais necessidades e desejos?
Para os atuais, poderia ser uma condição de moradia adequada ou satisfatória, em termos de espaço, ventilação, iluminação, mas também de disponibilidade de facilidades, como água, energia, telecomunicações, etc. E quais as necessidades ou desejos das gerações futuras?
Para os ambientalistas seriam condições climáticas, da água, da vegetação, da fauna, iguais ou melhores do que as atuais.
Para os clientes / usuários continuam sendo as necessidades ou desejos de uma boa condição de moradia, com os confortos atuais e mais a incorporação daqueles oferecidos pelo desenvolvimento tecnológico.
Onde estariam, dentro dessas visões as diferenças entre uma "arquitetura sustentável" e outra "não sustentável"?
A primeira na sustentação, ou seja, na permanência do imóvel construido, segundo o projeto sustentável. Uma confusão de percepção, tem levado a projetar casas com materiais de menor durabilidade e não recicláveis, procurando ser apenas "ambientalmente correto", o que é outra fonte de confusão. Ao longo de 50 ou mais anos, refazer um imóvel pode ser menos sustentável do que um que não precise recorrer novamente de matérias primas, impactando mais de uma vez, ao longo do tempo, o ambiente natural.
Uma segunda grande diferença estaria no uso de recursos finitos, como os derivados de petróleo ou gás, ou mesmo da água potável. Adotar, no Brasil, o aquecimento a gás pode ser menos sustentável do que o aquecimento com energia elétrica. Deixado de lado, por enquanto, a discussão sobre os efeitos de cada alternativa ao clima, o risco maior de escassez do primeiro pode comprometer as necessidades das gerações futuras, que terão que pagar muito mais caro pela fonte de suprimento energético.
A perspectiva econômica de sustentabilidade (e não de susentação) tem a ver com o efeito sobre os preços, em função, da escassez futura, provocada pelo uso não econômico (caracterizado como indiscriminado ou desperdiçante) de um fator de produção. Tornar a vida futura mais cara, em função de um pretenso atendimento mais barato atual é anti-susentável. Aqui entra, na perspectiva econômica a "internalização das externalidades".
Isso vale também para o uso de materiais, com recursos finito ou de demorada renovação, caso das "madeiras de lei". O uso excessivo e indiscriminado de determinados materiais pelas gerações anteriores comprometeu as necessidades ou desejos das gerações atuais, que não podem mais dispor de móveis de jacarandá, da mesma forma que as futuras não poderão dispor do mogno.
Voltando à arquitetura sustentável, há diferença entre projetar uma instalação sanitária com válvula hidra ou com caixa de descarga de 6 litros. Em projetos maiores, como condomínios, prever a reutilização da água, para lavagem de calçadas e outros, ou para regar os jardins.
É na escolha dos materiais em função dos impactos ambientais que estaria a principal diferença. Diversamente do caso da escassez futura, o impacto é direito e nem sempre visiável, além de envolver polêmicas sobre o que causa maior ou menor impacto ambiental.
A evolução da sustentabiliade envolve um conhecimento maior de todos os profissionais, dos impactos de suas decisões e ações. Melhor do que dizer sobre o ambiente, é sobre os ecossistemas, uma denominação um pouco mais adequada.
A sustentabilidade requer uma integração muito maior entre os empreendedores que querem investir, ampliar as capacidades produtivas ou de atendimento (seja para as gerações atuais como futuras) e os ambientalistas que ainda está fortemente imbuidos pela perspectiva preservacionista, buscando impedir tudo. Para os mais radicais o melhor é deixar tudo como está, ou até mesmo regredir, o que é contra o conceito da sustentabilidade, pois não atende nem as gerações atuais como as futuras.
Sustentabilidade não é ambientalismo, e a sua adequada compreensão é fundamental para a melhoria dos destinos da humanidade.
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